Luiz Eduardo de Rocha Paiva – Gen. de Brigada da Reserva*
Artigo transcrito do jornal “O Estado de São Paulo”, conhecido como ESTADÃO, em 27 de agosto de 2009.
Por que o governo não vê ameaça na existência de dezenas de imensas terras indígenas na faixa de fronteiras, criadas pelo Brasil sob pressão internacional e onde o índio é liderado por ONGs estrangeiras financiadas por potências alienígenas, inclusive os EUA? Organismos internacionais, ONGs e líderes mundiais não veem o índio como cidadão brasileiro e defendem a autonomia de suas terras com base na Declaração dos Direitos dos Povos Indígenas, aprovada pela ONU com voto favorável do Brasil.
Quanto às bases, do ponto de vista militar, as direções estratégicas que partem da Colômbia não são tão favoráveis quanto as oriundas do Atlântico que incidem na Amazônia brasileira através da região guianense. Em termos geográficos, as últimas evitam os Andes, são apoiadas por mar, não dependem tanto do apoio aéreo e estão diretamente orientadas para regiões de capital importância, como a foz do Rio Amazonas, Belém, Boa Vista e Manaus. Em termos políticos, há vínculos atuais e históricos das Guianas com as antigas metrópoles europeias, não ibéricas, interessadas nos recursos da Amazônia, grandes financiadoras de ONGs e aliadas dos EUA na Otan.
A reação brasileira no episódio das bases, ainda que impedisse a concretização do acordo entre a Colômbia e os EUA, pouco contribuiria para a segurança da Amazônia. Nas relações internacionais, o poder do mais forte é empregado sempre que estão em jogo interesses importantes ou vitais. Se a opção militar for necessária para resolver o conflito, uma potência empregará suas Forças Armadas desde que o oponente e seus possíveis aliados não tenham capacidade de dissuasão. Assim foi com os EUA nos Bálcãs e está sendo no Oriente Médio e na Ásia Central.
A visão dos governos brasileiros tem sido desfocada do essencial em termos de segurança nacional, levando-os a graves erros estratégicos por não perceberem que diplomacia e defesa têm por obrigação antever e se preparar para enfrentar uma ameaça quando ela ainda está no horizonte do “possível”, pois se esperarem que se torne “provável” será tarde demais para neutralizá-la; e que política externa é diplomacia e defesa. Por isso, o setor militar deve ocupar um espaço no núcleo decisório do Estado, no mesmo nível da diplomacia, como foi no passado. O Barão do Rio Branco, um dos maiores diplomatas e estadistas brasileiros, disse: “Não se pode ser pacífico sem ser forte.”
O desequilíbrio entre os campos do poder nacional, com perigosa indigência militar e científico-tecnológica, e, no campo psicossocial, a lamentável decadência moral da Nação tornam o País vulnerável, ainda que se projete como potência econômica. Os recursos nacionais, num mundo ávido por energia, ganham importância para os EUA por estarem em sua área de influência, na medida em que sua obtenção fica mais dispendiosa e incerta em outras regiões do globo.
Por tudo isso, manifestar preocupação com a soberania na Amazônia por causa das bases colombianas é supervalorizar o periférico em detrimento do fundamental. Revela a falta de percepção do que é nossa real ameaça e passa uma imagem de ator terceiro-mundista a reboque do líder bolivariano e de seus aliados – Equador e Bolívia -, três grandes óbices à integração regional. O governo não se manifestou quando o presidente Hugo Chávez propôs à Rússia instalar bases na Venezuela, em sua recente visita àquela potência, como noticiou a imprensa nacional. A política externa brasileira caracteriza-se pelos “dois pesos e duas medidas” e pelo alinhamento a projetos socialistas radicais do Foro de São Paulo para a América Latina.
Ao Brasil faltaram foco e independência ideológica no episódio das bases. E faltam civismo, educação e estadistas para liderar o bloco regional.
* O General Rocha Paiva aborda, neste artigo, a questão, do perigo que implica à soberania nacional que certos tratados internacionais e a criação indiscriminada de reservas indígenas, sob o patrocínio de ONGs e potencias internacionais.O General da Reserva Luiz Eduardo Rocha Paiva, Dr. em Geopolítica e ex-diretor da ECEME- Escola de Comando e Estado-maior do Exército – onde também é professor emérito, tem realizado uma verdadeira cruzada pessoal para a conscientização das lideranças brasileiras a respeito da necessidade de mantermos a nossa soberania. Nesta atividade ele realiza palestras, participa de encontros, seminários, lives e hangouts pela internet, escreve artigos na imprensa tradicional, em sites, blogs e participa com articulista em livros sobre a referida questão.
O General Rocha Paiva participou do 1º Fórum Federalista Nacional, em 2018.
Neste artigo ele aborda e denuncia a cegueira estratégica dos políticos brasileiros em relação a soberania brasileira sobre a Amazônia. O que fica evidente com a leitura do artigo em que o general avisa e denuncia a cegueira é que desde 2009 os governos nada fizeram para modificar esta situação.
O assunto é momentoso, tendo em vista que o Vaticano, que é um estado, apoia as propostas de criação do “Corredor Triplo A”, de Martin Von Hildebrand, e leva para sua sede a discussão de temas que dizem respeito à soberania nacional do Brasil, ao promover o Sínodo da Amazônia no próprio território e dar aopio a pessoas que nitidamente desejam solapar o nosso território e nossas riquezas. Não se trata, portanto, de discutir problemas de política e disciplinas internas da Igreja Católica, mas sim, um problema de ingerência internacional em nossos problemas internos; ao fazer isso, o Vaticano, promove um problema internacional.
De modo geral, nas relações internacionais, o poder do mais forte é empregado sempre que estão em jogo interesses importantes ou vitais. Se a opção militar for necessária para resolver o conflito, uma potência empregará suas Forças Armadas desde que o oponente e seus possíveis aliados não tenham capacidade de dissuasão. Assim foi com os EUA nos Balcãs e está sendo no Oriente Médio e na Ásia Central, disse o general.